Venâncio Mondlane/PODEMOS: “Insultos contra o partido não nos admira”

O anunciado “voltar de costas” de Venâncio Mondlane em relação ao PODEMOS agitou o partido de Albino Forquilha, que afirma ter sido surpreendido pela decisão.
Segundo o porta-voz da força política, Duclésio Chico, o documento divulgado que anuncia a rutura não tem legitimidade, pois não foi assinado pelo próprio Mondlane, que havia formalizado pessoalmente o acordo com o partido.
Chico acusa igualmente Mondlane de falta de coerência e pede para que a rescisão seja feita nos processos previstos no acordo.
“Nós, como PODEMOS, não sabemos o que aconteceu e ficámos surpresos com a comunicação de Dinis Tivane. Repudiamos o conteúdo do documento porque são insultos contra o partido, porém isto não nos admira”, frisa.
O Gabinete de Assessoria de Venâncio Mondlane anunciou o fim da sua relação com o partido PODEMOS, liderado por Albino Forquilha. Acusa o partido de “vender a luta do povo”.
A decisão marca o encerramento de um período conturbado, caraterizado por divergências entre as partes, especialmente desde o início das manifestações populares em Moçambique pela verdade eleitoral.
Rutura previsível
Para o analista político Wilker Dias, os sinais de desgaste na relação entre Mondlane e o PODEMOS já eram evidentes. Dias considera que os desentendimentos foram se acumulando o que tornou a separação inevitável.~
“Acredito que a rutura entre Mondlane e o PODEMOS já existia há algum tempo. Se olharmos para os posicionamentos que eram apresentados pelos dois lados, já levava a crer que poderíamos ter esta ruptura oficial”, explica Dias.
Wilker Dias entende que, no atual cenário político, o PODEMOS vai perder a sua relevância, embora tenha 43 assentos no Parlamento e seja agora o maior partido da oposição.
“Ao longo deste processo todo, o PODEMOS esteve sob alçada da imagem de Venâncio Mondlane e não se preparou politicamente para a rutura das relações”, justifica.
PODEMOS sai “fragilizado”
Esta posição é partilhada pelo analista Canuma Silvestre, que sublinha o papel crucial que Venâncio Mondlane desempenhava na mobilização de apoiantes e na articulação política.
“O partido PODEMOS sai fragilizado e sem aceitação e, nas próximas eleições, poderá sofrer consequências políticas drásticas.”
O afastamento de Mondlane do PODEMOS levanta questionamentos sobre o seu futuro na política moçambicana. Mondlane está isolado politicamente? Canuma Silvestre acredita que não.
Segundo o analista, Mondlane ainda possui um capital político expressivo e pode utilizar essa rutura como uma oportunidade para reavaliar sua trajetória.
“A nível político, Mondlane consegue ser mais forte que o partido PODEMOS e, neste momento, ele é o político mais popular do país, apesar de estar a avançar agora sem alianças políticas”, remata.
Os analistas ouvidos pela DW defendem que a criação de um partido próprio seria uma alternativa viável para que Venâncio Mondlane permaneça relevante no xadrez político e mantenha a sua base de apoio, apesar dos desafios que poderá enfrentar para a consolidação da sua organização política.